quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

AMOR LÍQUIDO

Amor líquido

Passado as festas de fim de ano cá estamos em 2010. Novamente as manchetes destacam desastres naturais causados pelas chuvas. A mais chocante em Angra do Reis com dezenas de mortes. É o paradoxo da água, tão necessária à vida trazendo a morte.
Quem dera fosse tão somente à área física que nos deparamos com conceitos que desafiam o senso comum. Eles povoam, e de forma intensa a alma humana. Isso mesmo, lá na sede de nossas emoções e sentimentos travamos uma ferrenha batalha existencial cada vez mais complexa. Vivemos numa sociedade neoliberal, pós-moderna e globalizada, quer dizer, o mundo hoje não é mesmo de 10 ou 20 anos atrás. Tudo mudou muito, se o avanço da ciência nos proporciona mais conforto, e isso é bom, também contribui para um crescente isolamento pessoal, e isso é muito ruim. Somos pressionados por um furacão de transformações. O que até então era inquestionável hoje é taxado como ultrapassado e até nocivo, e o pior, com roupagem legal sob a forma de lei. Não me tenham como um visionário obtuso e alienado, sei que muitas pessoas inteligentes, equilibradas e dignas também pensam assim.
Compartilho do temor do sociólogo polonês Zigmunt Bauman - de um de seus livros tomei emprestado o título desta coluna - que as relações interpessoais estão se deteriorando. Há uma insatisfação geral que se alastra por todos os grupos sociais. Instituições antes sólidas, hoje são atacadas por inimigos impessoais, sem rosto e identidade, escondidos atrás de pomposas terminologias modernas. Apresentam-se como bandeirantes da evolução, quando na verdade o único avanço oferecido é a solidão e o esfriamento do amor através de relacionamentos descartáveis que deixam um vazio tão grande que nenhuma parafernália tecnológica é capaz de preencher. Não sou contra o progresso, longe disso agradeço muito as facilidades que nos trouxe, o que é inadmissível é usá-lo indiretamente na tentativa de impor posturas de cunho moral.
Como cidadão sei do meu dever de respeitar quem pensa diferente, mas também do direito de ser respeitado como alguém livre e soberano que responde pelos seus atos na forma da lei. Falando em lei, noutra ocasião quero analisar com vocês os aspectos legal e moral da mesma, mas isso depois, agora me aterei ao assunto em epígrafe, ou seja, a necessidade de resgatarmos o amor em sua essência. O amor, segundo estudiosos se apresenta na formas de Eros, o amor erótico, sensual. Tem o amor Filos, da filantropia, humanitário. O mais importante é o chamado Ágape, esse é o amor sacrificial, desinteresseiro, aquele que nos move a fazer algo sem esperar nada em troca. É esse amor que precisamos cultivar e propagar, mesmo que pareça pieguice para alguém. Ame desinteressada e intensamente a você mesmo, seus familiares, amigos, seu emprego. Tire tempo para escutar seu coração; admire o raiar e o por do sol. Sorria mais, converse com as pessoas, pode ser que a tua atenção e carinho serão a única que ela terá nesse mundo que infelizmente está liquefazendo a solidez do amor com reais possibilidades de chegar à evaporação completa. Vamos deixar este processo se concretizar? Ainda há tempo de reverter, falta só coragem e disposição. O que vamos fazer?

Nenhum comentário: